Vamos aos factos
Facto 1: O gráfico seguinte mostra a evolução do Índice de Preços dos Alimentos (Food Price Index - FPI) - azul, e a evolução da produção do Biodiezel na UE - rosa (que tem crescido de modo semelhante à produção mundial), nos últimos 10 anos. A relação causa-efeito fica provada pelo facto que o FPI manteve-se constante, e até desceu durante 10 anos anteriores ao início da produção dos combustíveis verdes, em larga escala.
Fontes: http://www.biofuels-platform.ch/en/infos/eu-biodiesel.php e http://www.indexmundi.com/commodities/?commodity=food-price-index&months=360
Fig. 1 |
Comentário: tirando os picos transitórios no gráfico do FPI (linha azul), provocados pelas colheitas mais baixos durante certos períodos, a evolução do FPI acompanha perfeitamente a evolução da produção de biocombustíveis (linha rosa).
Pergunta: qual é a percentagem de alimentos que estão a ser queimados em automóveis? Será que os combustíveis verdes podem aumentar os preços no mercado alimentar?
Resposta: hoje em dia, até 25% dos alimentos estão utilizados na produção de biocombustíveis. Os dados dizem respeito aos cereais nos Estados Unidos, são do Ministério de Agricultura Norte-americano, e dizem respeito ao ano de 2009. Em 10 anos, vamos então queimar até 50% de alimentos, deixando morrer de fome até 10 milhões de pessoas, anualmente.
Facto 2: Os dois gráficos seguintes mostram as previsões do crescimento da produção mundial do Bioetanol (álcool etílico para combustível) - Fig. 2, e do Biodiesel - Fig. 3.
Fonte: http://www.agri-outlook.org/document/9/0,3746,en_36774715_36775671_45438665_1_1_1_1,00.html
Fig. 2 |
Fig. 3 |
As nossas previsões
- Nos próximos 10 anos o FPI vai crescer outros 50%, quase triplicando em 20 anos (a partir do ano 2000). Usamos para esta estimativa as tendências evidentes na Fig. 1 e os dados das Fig. 2 e 3.
- Ora hoje em dia morrem de fome, e das doenças relacionadas com a subnutrição, entre 10 e 20 milhões de pessoas, anualmente, na sua maioria crianças (os números variam muito entre várias fontes). Então daqui a 10 anos, irão morrer, anualmente, entre 15 e 30 milhões de pessoas, por ter crescido o FPI em 50%.
- Tendo em conta o crescimento de preços de alimentos que se deu nos últimos 10 anos, provocado pelo crescimento de produção de combustíveis verdes, são os mesmos hoje em dia directamente responsáveis pela morte de entre 3 e 5 milhões de pessoas, anualmente.
- Ou seja, nos 10 anos seguintes morrerão de fome, adicionalmente, devido aos combustíveis verdes, entre 50 e 100 milhões de pessoas, na sua maioria crianças, e quase todas em África - ver Fig. 4, que mostra o mapa de subnutrição.
Todas estas mortes são perfeitamente evitáveis.
Fig. 4 |
Fonte da Fig. 4: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Percentage_population_undernourished_world_map.PNG
Agradecendo o Anónimo pelas perguntas feitas, 23/04/2011 acrescentei as informações que estavam em falta, apresentadas de seguida.
Added on 2012/09/11: we now have conclusive scientific evidence that green fuels are the only reason that is driving the food prices up.
Anexo 1: Da estrutura de distribuição da população pelo rendimento
Como mostram os dados do Censo dos Estados Unidos (usamos estes, pois são os mais detalhados na zona de rendimentos baixos), ver Fig. 5, a distribuição acumulada (distribuição cumulativa, ou integral) da população pelo rendimento é linear na zona de rendimentos baixos (a parte de esquerda do gráfico), havendo algum alongamento no sentido dos rendimentos muito baixos, cuja existência no caso dos Estados Unidos deve-se à Segurança Social: esta complementa os rendimentos, salvando da morte as pessoas mais pobres.
Fig. 5 |
Anexo 2: Da quantidade da produção agrícola canalizada à produção de combustíveis verdes
Facto 1: preço do gasóleo em Portugal hoje (23/04/2011) é de €1,32; no mínimo.
Facto 2: preço do óleo de girassol no Continente hoje é de €1,49 - se fosse inferior ao preço do gasóleo, haveria quem se abastecesse nos supermercados ...
Sendo certo que os preços dos alimentos nos países pouco desenvolvidos são mais baixos, do que em Portugal, os seus mercados internos de alimentos não conseguem competir com o mercado internacional dos combustíveis, o que resulta em falta de alimentos e subida dos seus preços. Deste modo, os preços dos combustíveis empurram para cima os preços dos alimentos.
Mostra a Fig. 6, que para cumprirmos as metas, estabelecidas na Fig. 3 para os ano 2019, será necessário usar para combustível (queimar) mais de metade de óleos alimentares, a contar com a produção mundial de 2004.
Fig. 6 |
Naturalmente, o mercado de combustíveis, competindo (sempre ajudado pelo dinheiro dos nossos impostos!) com o mercado dos alimentos, vai distorcer a estrutura da produção agrícola, ocupando grande parte de terrenos férteis com as "culturas de combustíveis", e provocando uma subida do FPI, dos preços de todos os alimentos, e da mortalidade devida à fome nas nações pobres, incluindo os PALOP - ver a Fig. 4.
Anexo 3.
O FPI do "Economist" (gráfco de 2010) está aqui.
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